Muxima: o coração do Quilombo dos Palmares

         No Parque Memorial Quilombo de Palmares, o primeiro e único parque temático sobre a cultura negra do País, além das construções que referenciam o modo de vida daquela comunidade quilombola, o Memorial dispõe de pontos de áudio com música e textos em quatro idiomas (Português, Inglês, Espanhol e Italiano) que narram aspectos do cotidiano do Quilombo e da cultura negra. São os espaços Acotirene, Quilombo, Ganga-Zumba, Caá-Puêra, Zumbi e Aqualtune. Destacam-se, ainda, os murais com placas informando sobre a desapropriação do local, quando iniciaram as obras, quais governos contribuíram, quais personalidades visitaram o local. Construído por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (vide mural), recebeu visitas como do ministro Luis Roberto Barroso que em meados desse mês de outubro se aposentou do cargo da mais alta Corte de Justiça do Brasil.

        Ali no parque as divindades estão presentes em todos os momentos da vida desses povos e seus descendentes, como se estivessem ali nalgum espaço daquele Memorial tão especial. O Espaço Acotirene, nome dado a um dos maiores mocambos dos que faziam parte da República dos Palmares, é uma referência às divindades africanas que, como Acotirene no Quilombo dos Palmares, orientava, aconselhava e guiava os povos negros.

O Muxima

Mas ali tem, ainda, o espaço chamado de “Muxima de Palmares” um local de homenagem aos principais líderes do Quilombo dos Palmares. A palavra “Muxima” é de origem [Bantu, significando “coração” ou “centro”, simbolizando a importância desses líderes e a centralidade do local para a memória da resistência do quilombo. A combinação das palavras, portanto, significa “o coração do Quilombo dos Palmares”, um espaço destinado a honrar os líderes e a memória da luta do quilombo pela liberdade. Ali estão os nomes das lideranças antigas já falecidas e personagens contemporâneas, nascidas no século XX.

                   Quando entrei no espaço de Muxima de Palmares, comecei olhando as fotos mais próximas da entrada, lendo as biografias de personalidades/lideranças negras (algumas brancas) que deram sua contribuição à valorização ou resistência contra o racismo e a segregação da raça negra, vi a foto de Carolina de Jesus e já me emocionei. Conhecia, através da leitura, a história dessa mulher que não se resignou em apenas viver, lutar no dia a dia pelo sustento, mas que decidiu escrever, relatar suas vivências para instigar e inspirar outros à luta contra o racismo e segregação. 

Resolvi tirar uma foto com essa grande mineira, cuja trajetória simplificada informa que foi catadora de papel e mãe solteira e que “quebrou todos os paradigmas e acreditou em si mesma”. Deixou 4 livros publicados e 6 póstumos, na sua vida (1914/1977), entre esse Quarto de Despejo: O Diário de uma Favelada” (1960), onde a conheci, lendo!

         Ali perto da foto de Carolina está o compositor e cantor gaúcho Lupicínio Rodrigues e daí a minha emoção subiu mais degraus! Além de ter conhecido o grande Lupi, como sempre foi chamado esse querido, nascido na Ilhota, Porto Alegre, em setembro de 2014 e falecido em 27 de agosto de 1974, eu ainda estava impactada com a notícia de que ele e Pixinguinha haviam sido declarados (lei do Congresso Nacional) como os Patronos da Música Popular Brasileira.

Aqui a abertura do Congresso no Anfiteatro do Resort

Eu saíra de Porto Alegre na manhã de 25 de setembro – rumo a Maceió/ Alagoas, onde participei do 40º Congresso Nacional da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (Abrajet), evento realizado pela Abrajet/Alagoas, no Ipioca Bech Resort, de 25 a 28 de setembro – em meio às comemorações entre os amigos de Lupi e seu filho, Lupicínio Rodrigues Filho, com a escolha de Lupi como um dos Patronos da MPB. Minha primeira atividade pós-congresso (quando por conta própria estabelecemos – Gilberto Sander Müller e eu – o que fazer depois do compromisso profissional) foi subir a Serra da Barriga. De carro alugado no aeroporto entramos na BR- 104, fomos conhecendo a região. A chegada em União de Palmares um primeiro impacto, com o monumento grandioso de Zumbi, bem ao lado direito da BR, no ponto da entrada da cidade que dá acesso à Serra da Barriga. A primeira parada para fotos foi ali!

Mas, voltando ao Muxima: Ver o nome e foto de Lupicínio Rodrigues naquele santuário foi muito gratificante. Tive que fazer outra foto e mandar para os amigos em Porto Alegre! Veja

Homenageados na Muxima fazem sua tarefa de luta

         Na sequência vi a foto e homenagem ao Abdias Nascimento, personagem que esteve em todas as frentes, na luta pelo reconhecimento da atuação do povo escravizado na construção do Brasil, cujas cinzas foram depositadas em uma área do Parque, em 13 de novembro de 2011. Duas árvores foram plantadas onde as cinzas foram colocadas: Um Baobá e uma Gameleira Branca, ambas consideradas sagradas.

Ali está a foto de Chica Xavier, ialorixá, produtora teatral e atriz de teatro, cinema e televisão brasileira. Mesmo sendo mais conhecida pelo grande público por seus trabalhos nas telenovelas da TV Globo, em novelas como Os ossos do Barão, a Cabanha do Pai Tomás;

Foto de Mae Neide, Ialorixá que nasceu no município de Arapiraca-AL.  Ela mantém um centro de cultura afro – Centro Espírita Santa Bárbara, no Conjunto Village Campestre, onde mantém curso e oficinas profissionalizantes e trabalha em prol da melhoria da comunidade;

Mae Biú de Xambá, filha de Ogum, uma filha de resistência pela manutenção das tradicionais de sua crença, da Nação Xambá, em Recife e Olinda.

Estão ali no Muxima, ainda, Zezito Araujo, Mestre em História Social, a trajetória de Zezito Araújo como docente em Alagoas expandiu-se para a instituição de ensino superior Cesmac e à Secretaria de Educação do Estado, Antropólogo, de Cultura, Antropologia do Brasil II – Cultural africana e afro-brasileira, História de Alagoas, História;

 Mestre Claudio, Claudio Nascimento, mestre de Capoeira Angola, professor de Dança afro e Percussão, fundador do Grupo de Capoeira Angola Volta ao Mundo.

 Helcias Pereira, – quem encontrei no Parque, acompanhando uma equipe que viajara de São Leopoldo/RS para produzir documentário sobre as expectativas do 20 de novembro no Parque – Educador Social e Guia de Turismo. Membro fundador e Coordenador Adjunto do Centro de Cultura e Estudos Étnicos ANAJÔ. Coordenador do Projeto Palmares in loco no Parque Memorial Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga. Membro da Coordenação do Projeto VAMOS SUBIR A SERRA em Maceió-AL;

Helcias narrando sobre as atividades e expectativa para o feriado de 20 de Novembro

Mestre Camisa – Na capoeira ele é conhecido como Mestre Camisa, mas seu nome de batismo é José Tadeu Carneiro Cardoso. Atualmente tem 69 anos e é atuante na capoeira nacional e internacional. Nasceu na Chapada Diamantina, no distrito de Jacobina, no sertão da Bahia;

Mae Mirian – Zeladora de santo e de cultura afro-indígena em Alagoas, Mirian Araújo Souza Melo traz no samba de roda em terreiro de candomblé sua religiosidade carregada de ancestralidade. Patrimônio Vivo do estado, sacerdotisa resiste e inspira futuras gerações afro-alagoanas, já com mais de 90 anos.

Joãozinho da Goméia, filho e pai de santo, sacerdote do candomblé de angola, artista, nascido em 1914 e falecido em 1971, deixando uma vida de muita ação.

Jurema J Silva

Jornalista profissional, trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e Rio Grande do Sul. Prestou assessoria às entidades ABAV, Sindetur, Sindicato de Hotéis no RS e à Confederação das Organizações de Turismo da América Latina (Cotal). Atualmente atua com assessoria de imprensa na Câmara Municipal de Porto Alegre.

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