Gramado: Connection Terroirs apresenta Turismo autêntico, com alma

Quando tinha 16 anos, Any Brocker, uma das proprietárias da Brocker Turismo, de Gramado, decidiu fazer um curso de guia de para desenvolver seu sonho de apresentar às pessoas, aos visitantes de Gramado e Canela, as muitas lindas e desafiantes paisagens da região, com foco na preservação ambiental. Afinal ela nasceu ali em Canela, e sua família era dona de boa parte do local conhecido como Vale da Lageana, na prática uma área que inclui nascentes, grotas, picos, riacho, muitas quedas abruptas e o arroio, cujo nome deu nome ao Parque do Caracol.

Roteiro leva ao pé da queda.

A ideia era levar visitantes de bicicletas, a pé, (o chamado trekking) a percorrer as primeiras trilhas íngremes, mostrar a natureza ou, em outras palavras, criar um roteiro de ecoturismo e de aventura. A jovem seguiu o sonho, teve uma resposta apenas razoável ao seu investimento, parte sustentado por uma avó Ivonne confiante, que a estimulava. Devido a falta de interesse nesse tipo de turismo, na época, acabou mudando o enfoque, mas não a ideia de atuar para e pelo turismo. O relato dessa guerreira que levou do berço o incentivo para a realização dos seus sonhos, levantou aplausos no Palácio dos Festivais de Gramado, numa fria manhã de sexta-feira (30/05/2025), durante sua fala no painel “Vendendo mais que Viagens: o mercado de experiências autênticas”, apresentado no Connection Terroirs do Brasil, evento realizado de 28 a 31 de maio de 2025 em Gramado pela Rossi & Zorzanello, tendo correalização do SEBRAE.

O Maria Fumaça ,cuja animação é feita pelos grupos de música italiana , está nos roteiros

Por incrível que pareça, depois de deixar essas experiências mais “selvagens, ou pesadas”, fora da sua agenda, em 1995 criou com a irmã a Adriane Brocker Boeira, a agência de viagens e Turismo, no começo vendendo roteiros de turismo em geral, mas depois focando com firmeza no receptivo e turismo com “alma” ou de experiências. Agora o antigo sonho foi trazido de volta. “A clientela, as pessoas estão prontas para essas aventuras e sobretudo para experiências em turismo com alma, quem sabe com terroirs”. A empresa focou na região da serra gaúcha, abrangendo as delícias dos vales dos vinhedos, do trem Maria Fumaça. E leva grupos ao pé da cascata do Caracol, onde um balanço foi colocado para dar, a melhor visão da cascata e aquele “frio” na barriga! A trilha segue firme, com muitos interessados e a viagem embarcada, em veículos especiais para a área íngreme, é sucesso. Pra resumir: a casa da Vó Ivone foi restaurada e no meo do caminho serve de parada para descanso e para se ver como viviam “naqueles tempos”. A exemplo dessa explanação das experiências vividas, outros cases se sucederam, sempre com o suporte de profissionais qualificados do Sebrae, atuando na monitoria. Na atualidade, a empresa atua fortemente no receptivo, apresentando surpresas ao turista.

Guilherme Paulos, fundador da CVC, uma pessoa voltada a buscas de novas atrações e ao turismo antecedeu a trajetória de Ane Brocker na sua lide com o turismo, e deu seu recado depois dela. Ele mostrou também um pouco mais das ofertas exclusivas e relacionadas ao terroir do Castelo Saint Andrews, hotel que ocupa área nobre, com vista para o Vale do Quilombo, cinco minutos da área central de Gramado. A empresa de Paulus tem outros hotéis em Gramado e espalhados pelo país, mas o empresário dedica atenção especial ao castelo, e provocou a plateia lembrando Chacrinha: “Talvez os mais jovens aqui na plateia não saibam quem foi o Chacrinha. Mas vale a pena conhecer também um pouco da vida dele.

O Castelo, um dos 580 no mundo!

Eu me inspirei na frase que ele dizia – Na vida nada se cria, tudo se copia”. Diante da dica, Guilherme Paulus foi a luta: ” Bom, eu fui pra Europa, Estocolmo (Suécia), conhecer o trabalho deles, num hotel Castelo, e copiei e apliquei no Saint Andrews os programas que tinha condições de aplicar aqui no Saint Andrews que é um dos 580 Châteaux Relais do mundo”. Essa marca é o sinônimo de “exclusivo, especial”.

Brasil: Celeiro da humanidade

Para Jose Luiz Tejon, um estudioso na área, e uma das pessoas mais importantes do agrobussines, doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai, Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e com especializações em Harvard, Pace University e MIT/USA e Insead – França, o processo vivido por Ana Brocker e a atuação de Guilherme Paulus estão no rumo certo. “Temos que valorizar o que está ao nosso lado, onde vivemos nossas vidas, temos nossos amores e referências. E devemos criar condições para que outros usufruam do que dispomos”, disse o professor na sua palestra dia 29, no mesmo espaço.

  Ele discorreu sobre Terroir Brasil: saúde, sabor e sucesso do novo agrotropical mundial, lembrou de várias experiências sobre a valorização de produtos locais, com terroirs pelo mundo afora, contando sobre sua ida no Salão Internacional de Agricultura, em Paris, onde não encontrou nenhuma comitiva ou estande de empreendedores com produtos brasileiros. “Fiquei chocado, pois temos tantos exemplos de produtores que atuam buscando a sustentabilidade, que tem tradição em produzir alimentos sabor, com qualidade, mas não havia brasileiros nessa grande feira onde estava o mundo todo”, contou, em tom de lástima.

         Destacou que o mundo está vivendo mudanças e que, na atualidade, as gerações mais jovens dão preferência aos produtos das suas regiões. E, nesse cenário, os jovens franceses, por exemplo, só aceitam consumir produtos da sua região. ” é uma tendência, o que também ocorre em outros países ou regiões. Mas ali é muito forte. Tudo é terroir desse ou daquele lugar”. Contou que os franceses não descuidam e até mesmo o sal de uma região da França – Sal de Guérande, conhecido desde primórdios – está famoso e, naturalmente, a região é procurada por turistas que querem experimentar pratos nos quais o sal foi usado. E já tem indicação geográfica protegida (IGP), da mesma forma que os salineiros (trabalhadores que colhem e beneficiam o sal no mar e pântanos) são os guardiões desse “eldorado”.

Diante de vários casos parecidos, José Luiz Tejon deixou o recado, através de uma entrevista que fez com um dos prêmios mundiais da Paz, o indiano Rattan Lal, cientista do solo indiano-americano. Especialista na agricultura regenerativa através da qual o solo pode ajudar a resolver questões globais como as alterações climáticas, a segurança alimentar e a qualidade da água. Na gravação apresentada – aplaudida- o cientista declarou: “Caberá ao Brasil, por todas as suas qualidades, com terras e climas de todos os tipos, e população dinâmica e criativa, ser o celeiro capaz de alimentar a humanidade”.

Jurema J Silva

Jornalista profissional, trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e Rio Grande do Sul. Prestou assessoria às entidades ABAV, Sindetur, Sindicato de Hotéis no RS e à Confederação das Organizações de Turismo da América Latina (Cotal). Atualmente atua com assessoria de imprensa na Câmara Municipal de Porto Alegre.