O Taim e os Campos Neutrais, locais pouco conhecidos

Uma viagem aos Campos Neutrais, exatamente no extremo meridional do Brasil, na divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai pode ser um excelente motivo para renovar energias junto à natureza, recuperar ou relembrar parte da rica, curiosa e vigorosa história dessa região. A viagem também servir para fazer compras nas cidades de Chuí e Chuy.  A divisória ou a fronteira entre as duas cidades-países é o canteiro da área central de uma larga avenida. Do lado uruguaio está a avenida Brasil. No lado gaúcho, ou rio-grandense e ainda brasileiro, fica a Avenida Uruguai. Nesta, o comércio é de comerciantes gaúchos ou brasileiros. Já na Brasil, as lojas de freeshopp, muitas lotadas. Numa brecha, entre essas lojas, muito comércio normal de produtos uruguaios, ocorrendo o mesmo nas transversais dos dois lados da fronteira. Mas antes das compras, a viagem precisa ser curtida, desde a paisagem até mesmo os cemitérios, pois a natureza e a história estão presentes em toda parte.

Indicativo dos Campos Neutrais

Indicativo dos Campos Neutrais

Taim: Como chegar lá

A ida de Porto Alegre até o Chuí pode ser feita pela BR-116 até Pelotas, seguindo dali pela BR 392 e depois BR 471, que é a continuação da BR-101, uma extensa reta entre lagoas, campos plantações de arroz e zonas de criação de gado. Entre os municípios de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar fica a Estação Ecológica do Taim, uma unidade de conservação que abrange área de 11.000 hectares. A administração da Estação está a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O trecho da reserva entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim é espetacular e exige várias paradas e mesmo entrada em estradas não asfaltadas para se ver mais. Na BR 471 pode-se estacionar em alguns pontos do acostamento para apreciar a natureza.

Capivaras na Estação Ecológica do Taim

Capivaras na Estação Ecológica do Taim

Capivaras, jacarés do papo amarelo, tuco-tucos, ratões do banhado, tartarugas, lontras e aves como o João Grande, Gaivotas, Tachãs, maçaricos garça-moura, socós, gaviões ximangos e caramujeiros, cisnes- de-pescoço-preto e tantas outras se misturam em harmonia, seja nadando nas águas do banhado ou de uma lagoa, ou nos pequenos montes tomando banho de sol, voando e caçando. Se o viajante for um bom observador poderá avistar situações inusitadas, como um pequeno maçarico enfrentando com o levantar de asas e gritos estridentes, um enorme jacaré que depois de ficar um bom tempo parado, recua. Só mesmo a natureza para propiciar uma imagem dessas. Nessas paradas o interessado em obter boas fotos da natureza tem chances ótimas. A velocidade no trecho da Reserva é de 50 quilômetros/hora, no máximo. Vale a pena respeitar, pois mesmo o cercado em boa parte do trecho não impede que alguma capivara ou jacaré decida “transitar” ou atravessar a via.

TAIM

No banhado do Taim, jacaré-de-papo-amarelo

O Passado da Região a História é um Romance

Quem está no sentido Rio Grande Taim, deve prestar atenção à localidade chamada de Vila da Capilha. Uma pequena comunidade formada a partir da Capilha (capela, em Português) dedicada à Nossa Senhora da Conceição, mandada erguer, nos idos de 1760, mais ou menos, pelo maior dono de terras naquela imensidão de terras  que os historiadores, os antigos habitantes e autoridades chamavam de Campos Neutrais: o famoso Comendador Domingos Faustino Correa, uma figura quase lendária no Rio Grande do Sul. A história da imensa fortuna deste que foi devoto de Nossa Senhora da Conceição, a quem destinou à Capilha, rendeu o mais longo processo que a justiça gaúcha já teve. Essa figura deixou um testamento extenso, confuso no qual destinou bens para testamenteiros, amigos, ordens religiosas, alguns dos sobrinhos filhos dos seus 10 irmãos – e às suas “crias”, denominação por ele usada no testamento, para seus filhos nascidos de mais de meia dúzia de escravas com as quais teve relacionamento. A confusão maior – que acabou por fazer com que o testamento “emperrasse” apenas cerca de 110 anos – de 1874 até 1984 – na Justiça, é que esse grupo seria beneficiado até a quarta geração. A partir de então, se supunha – pois não fica bem claro, os descendentes dos descendentes não contemplados poderiam herdar alguma coisa. O certo desta emocionante história é que na década de 80 uma sala do Tribunal de Justiça, onde hoje funciona o Palácio da Justiça, na Praça da Matriz, era destinada ao processo. Isso eu conferi. Da mesma forma que entrevistei para o extinto jornal Folha da Tarde, da Companhia Jornalística Caldas Júnior, alguns dos 6.336 personagens que pleiteavam a herança.

Taim

Capilha na região do Taim

Placa na praça da Capilha

Placa na praça da Capilha – Taim

Indiferente a essas brigas judiciais, esse quase romance (não seria?) a Capilha de Senhora da Conceição mandada  erguer pelo Comendador, está sendo recuperada talvez no mesmo ritmo com que o processo andou. Está ali numa praça e na beira de mais uma das muitas lagoas da região, no caso a internacional Mirim – que se alonga rumo a Jaguarão e vai até o outro lado da fronteira onde é chamada Laguna Merin. No verão, os visitantes passam pela pequena e bonita igrejinha rumo a praia da Capilha, ali ao lado. Dois pequenos restaurantes atendem os visitantes, com comida caseira ou algum lanche. No inverno, o vento e frio cortante a deixa tudo ao abandono. Mas a Capilha está ali, dando um ar de seriedade ao ambiente, como se Nossa Senhora esperasse uma visita, uma prece.

Taim

Praia da Capilha, na lagoa Mirim junto ao Taim  

http://virtude-ag.com/vg-taim-rs-nov13-gilberto-muller/

admin

Jornalista profissional, trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e Rio Grande do Sul. Prestou assessoria às entidades ABAV, Sindetur, Sindicato de Hotéis no RS e à Confederação das Organizações de Turismo da América Latina (Cotal). Atualmente atua com assessoria de imprensa na Assembleia Legislativa.

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