Baía da Traição é a terra dos Potiguares na Paraíba

Embora os nascidos no Rio Grande do Norte sejam chamados de “Potiguares”, a maioria das tribos que concentram índios potiguares ou potiguaras estão localizadas em terras litorâneas da Paraíba, entre Natal e João Pessoa e parte no Ceará. Da família Tupi-Guarani, esse povo fala principalmente o Português, embora em algumas das tribos existam escolas exclusivas para as crianças indígenas que vivem nos municípios paraibanos de Marcação, Baía da Traição, Rio Tinto e Monte Mor. Foi na Baía da Traição – uma magnífica praia recortada por um mar com arrecifes e delimitada pelos rios Camaratuba ao norte e Mamanguape ao Sul – que fomos conhecer algumas aldeias, em especial nas praias de Tambá, do Forte e do Galego, onde o pajé Antônio cuida do seu povo.

Pagé Antônio na Loja de Artesanato

Pajé Antônio na loja de Artesanato

Se a comunicação com o visitante é em Português, a fala com os seus ainda é na língua nativa, em especial com os mais os velhos. As casas e modo de vida são de um povo aculturado, que mantém a tradição para dentro das casas e para ocasiões especiais como o Toré, festividade em que os adornos feitos com folhas, frutos, cascas de árvores (embira branca), conchas, penas, madeira, osso e sementes dão o colorido. São usadas essas mesmas matérias primas para a feitura do artesanato, produzido por homens e mulheres e comercializados ali no centro de encontro.  No dia a dia, o povo dessa aldeia – apenas uma das 17 destes municípios – trabalham normalmente. Alguns poucos na pesca, outros na lavoura e muitos em atividades bem urbanas, pois toda a cidade de Baía da Traição é povoada pelos Potiguares.

Colares para enfeite e curas que podem ser usados após as rezas

Colares para enfeito e para curas, que podem ser usados após rezas

A casa de Artesanato da Aldeia do Galego é ponto de referência para saber mais sobre as tribos, sua história e modo de vida. Ali o Pajé Antônio recebe visitantes, apresenta as muitas peças de artesanato que podem combinar com a aura do visitante. Ensina rezas, cânticos que podem ajudar a aliviar ansiedades e dores, e faz brincadeiras para provocar risos. Tem na alegria uma fonte de cura de dores, de conflitos internos. E recomenda o riso como cura!

Ancestrais e novas gerações têm espaço

Os ancestrais e as novas gerações têm espaço

As casas dessa aldeia são comuns, mas com o charme de terem sido construídas, na sua maioria, em meio à floresta Atlântica, com imensos pátios que guardam coqueiros, mangueiras e cajueiros (com mangas e cajus maduros em dezembro, quando fiz a visita), e uma infinidade de plantas nativas e frutíferas. Muitas dessas comuns em todas as matas do nordeste, da Bahia para o Norte. Pequenos roçados com plantação de mandioca, milho, alguns temperos e chás, hortaliças, além da criação de galinhas soltas, complementam o cenário dessas aldeias. Mas em algumas, muitos dos homens pegam firme na lavoura de cana de açúcar, forma de ganhar a vida e sustentar as famílias, visto que a produção de cana ocupa grandes áreas que pertencem ao povo Potiguara. E a cana vai para a produção de açúcar, cujas usinas estão ali mesmo, no caminho para as lindas praias.

Casebres de barro e folhas e montanhas de conchas ao lado

Casas de barro e folhas e montanhas de conchas abaixo

Na Aldeia do Galego, a pesca é praticada por aqueles que moram na parte mais baixa, na altura da magnífica Lagoa Encantada ou na parte baixa de um grande falésia da chamada praia do Forte.  Para se chegar à casa de Artesanato do Pajé Antônio, uma subida íngreme leva a chamada Fortaleza, da qual restam apenas canhões em postos estratégicos, oferecendo uma vista magnífica do mar e do farol e da área central da cidade, cujos moradores – na sua quase totalidade – também são indígenas.

Já na parte sul mais para a entrada da cidade, as famílias da aldeia junto à Praia de Coqueirinho do Norte, a atividade mais comum é a pesca. Por isso, ao lado de muitas casas bem simples – algumas de barro e folhas – é normal a estocagem de conchas, formando montanhas. Nesta aldeia fica uma das grandes e bem estruturadas escola indígena e a igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.

Mais uma aldeia entre as tantas na região

Mais uma aldeia entre as tantas na região

Dali, na praia do coqueirinho, junto da pequena e charmosa igrejinha, tem a saída de barcos para passear pela baía até os arrecifes e ao rio Mamanguape onde – dependendo da sorte, e da época – pode-se avistar peixes- boi e também tartarugas marinhas nos arrecifes. Os peixes-boi da Baia da Traição são fruto de um trabalho desenvolvido na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos. Os pesquisadores recebem neste centro animais feridos e muitas fêmeas dão a luz ali e depois seus filhotes precisam ser introduzidos na natureza. O começo pode ser nas águas do rio Mamanguape, ali na Traição, pois o mesmo tem muita vegetação subaquática, plantas que o peixe-boi aprecia. Não demos sorte na nossa tentativa de ver um exemplar, mas valeu a tentativa porque tinha muito mais para ver e curtir na tranquila Baía da Traição, como o nosso blog vai relatar.

Nossa Senhora dos Navegantes na praia do Coquerinho do Norte

Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes na praia do Coqueirinho

Para chegar ao local, indo de João Pessoa pela BR 101, entrar na PB- 041, em Mamanguape. De João Pessoa até a Baia da Traição dá cerca de 78 quilômetros. Quem vai de Natal/RN, a distância – também pela BR-101, sentido Norte/Sul, e depois PB -041 fica em 120 quilômetros.

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