A Natureza ainda rebelde da Baía da Traição
A Baía da Traição – no litoral da Paraíba, cerca de 90 quilômetros da capital João Pessoa e 120 de Natal/RN (na BR-101) – é a nação Potiguar, indígena natural da região e dono dessas vastas áreas, entre Paraíba e Rio Grande do Norte. Tem esse nome porque muitos estrangeiros que quiseram se apossar da área foram atraídos por potiguares até o local, onde ajudados pela geografia local, renderam os invasores que ficaram presos na maré baixa, devido aos arrecifes (formações rochosas, tipo muros). No século XVI, o local atraia pelo mesmo motivo que nos dias atuais: a beleza de uma natureza rebelde.
Pontos elevados com mata e falésias que chegam à beira mar, um litoral recordado com praias lindas, baías, coqueirais, mangueirais, mata de pau-brasil e outras árvores, isso tudo guarnecido por arrecifes que, dependendo do horário e das marés, ficam ocultos nas águas, servindo como aliados para desmantelar embarcações de colonizadores ou descuidados. Para completar o quadro, o oceano, bastante violento e só acalmado pelos arrecifes, acolhe as águas de rios que formaram lagoas de água doce escondidas em pontos que, ainda nos dias atuais, só os povos originários, os Potiguares sabem como chegar com segurança.
Para chegar na Traição o visitante deverá utilizar a BR-101 (seja vindo do norte ou sul), e entrar na rodovia PB -041, passar pela localidade de Rio Tinto, seguir pela via entre canaviais, passar por engenhos de açúcar até chegar no local. A Baía da Traição é um pedaço de terra que vai desde a foz do Rio Camaratuba (sentido Natal / João Pessoa), até a foz do Rio Mamanguape (sentido João Pessoa/Natal) tendo como pontos principais, neste trecho, a barra do Camaratuba, uma praia magnífica, as praias de Cardosas, Girimum, Tambá, Forte, Baía da Traição (essa formando piscinas naturais até com cascatas de água do mar), Prainha ou Trincheiras e, já numa aldeia indígena, Coqueirinho.
É possível a travessia por balsa da Barra de Camaratuba para Baía da Traição. Não fizemos a travessia, pois é recomendado veículo 4X4 no trecho das terras indígenas, mas é preciso – se desejar fazer essa travessia – buscar informações se a rota está transitável e horários de funcionamento das balsas.
O tempo das invasões de portugueses, que colonizaram a área, seguidos pelos franceses e holandeses já passou. Restam as lembranças das muitas embarcações que foram a pique, pois chegavam com a maré alta e ficavam a mercê dos potiguares. O certo é que ainda nos dias atuais, com a chegada da civilização, Baía de Traição continua uma atração imperdível. A cidadezinha tem o necessário para o visitante que não está em busca de sofisticação. Nada de restaurantes ditos “finos” e que funcionem fora da temporada de verão. No caso, não vale apenas olhar nas indicações e decidir o local. É preciso logo na chegada – se for fora da temporada de verão – ver o que e em que horas funciona. Mas para compensar, mesmo na beira da praia, com o pé areia e cobertura de folhas de palmeira, os bares oferecem pratos que agradam paladares exclusivos. Petiscos e peixe frito ou grelhado, até lagostins grelhados com salada. No Bar Trincheiras, da Prainha ou Trincheiras, o proprietário e a esposa se esmeram em atender os fregueses que saem do banho de mar – neste trecho da praia o banho já é seguro, mas sempre é bom ter cautela – em busca de uma sombra, água doce para uma ducha e algum quitute. Ali comemos um prato de lagosta de deixar saudades. Lembrou-nos outra lagosta muito boa. Mas essa foi na Redonda, no Ceará, fazem muitos anos.
A hotelaria também não prima pelo requinte, mas existem muitas pousadas e apart hotéis que oferecem excelente hospedagem. Bem na ponta da praia da Baía da Traição estão quatro pousadas/hotéis.
Optamos por um apart hotel, o Prainha Apart Hotel, na praia do mesmo nome, com café da manhã, vista e saída para a praia, apartamento com cozinha onde era possível fazer nossas refeições, em especial à noite, pois fora de temporada poucos são os locais que ficam abertos. O Apart conta inclusive com churrasqueira e uma piscina pequena para atender famílias com crianças e o atendimento, feito por funcionários muito educados e prestativos, foi excelente. Durante o dia, as refeições foram feitas onde nos encontrávamos numa expedição de conhecimento da região e observação de aves.
O encanto da Baía da Traição fica por conta das baías que oferecem tipos de praias variadas para banho, surf ou navegação, todas cercadas pelos arrecifes – alguns muito próximos das areias e outros bem distantes. Numa estada de seis dias no local, foi possível visitar e interagir com os Potiguares em aldeias indígenas, curtir o banho de mar na Prainha e das piscinas naturais da praia da Traição, conhecer a área central, visitar e curtir a praia de Coqueirinho do Norte, de onde saem passeios de barco para ver tartarugas, o peixe boi na desembocadura do rio Mamanguape, subir nos arrecifes na maré baixa e tomar banho de mar, é claro. Nesta praia está a linda pequena capela de Nossa Senhora dos Navegantes, encravada dentro da aldeia indígena do mesmo nome, bem na beira do mar.
Outro passeio especial foi a visita ao ponto onde no século XVI foi construído um forte no alto do Tambá, um morro de onde se descortina toda a vista da barra e enseada da Baia da Traição. Restam alguns pedaços de canhões, lembrando o tempo das invasões. No local, no verão e nos finais de semana, funciona uma loja de souvenires e lancheria. Do alto do Tambá, que deu nome a praia que fica abaixo da enorme falésia com areia ou terra avermelhada, também é possível acessar a Lagoa Encantada, de preferência com guia indígena, por trilha que sai da Aldeia do Galego, logo adiante, porque sem guia é possível se perder, afinal a lagoa é Encantada! Vale a pena a caminhada.
A vista do morro do Tambá é majestosa, de rara beleza. Lá de cima o visitante pode ter uma visão mais clara da enseada e do Farol da Baia da Traição, inaugurado em 1923, sobre pequena ilha que – aparentemente – é resultado de uma falha natural nos arrecifes. O farol tem 12 metros de altura. Tem um passeio de barco que sai da Traição e margeia o local.