Hotelaria brasileira investe em segurança sanitária

Líderes das ABIHs do sul do Brasil, durante Encatho em Florianópolis

A expectativa da indústria hoteleira é de que a retomada do turismo ocorra com a chegada de uma vacina contra a Covid-19, o que esperam para os meses de janeiro ou fevereiro de 2021. “A partir da vacina podemos afirmar que em dois anos estaremos recuperados plenamente no turismo de lazer e entre três a quatro anos no de negócios”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH) Manoel Linhares, durante a entrevista através de uma live realizada pelas ABRAJETs Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), em 25/08/2020, na qual se discutiu o “Setor hoteleiro e sua retomada no Sul do Brasil”. A live foi coordenada pelo presidente da Abrajet/Nacional, Evandro Novak e contou com a participação dos presidentes das ABIHs do Paraná, Orlando Kubo; de Santa Catarina, Osmar Vailatti e do Rio Grande do Sul, José Reinaldo Ritter. Participaram também o proprietário do hotel Renar, Edson Ziolkowski (SC) e os diretores-gerais do Machadinho Thermas Resort (RS) Juarez Tavares e da Rede Mabu (PR), Eduy Azevedo, além do presidente da Paraná Turismo Jacob Mehl.

Enquanto a vacina não chega, hoteleiros de todo o país vêm investindo, visando oferecer segurança aos seus hóspedes. Sem dispensar a indicação do uso do álcool gel e da máscara, cada hotel buscou no mercado equipamentos com tecnologias capazes de oferecer respostas voltadas desde a medição de temperatura corporal, detecção de riscos até eliminação de bactérias e vírus. Tanto Linhares quanto os presidentes das ABIHs dos três estados do Sul têm a mesma posição em relação a retomada plena e também sobre o rombo que a Covid-19 causou ao setor. “A pandemia foi brutal para a economia em geral, mas foi devastadora para nós. O turismo é diferente do agro e da indústria em geral, pois não temos estoque para armazenar. Noite não dormida num apartamento de hotel é noite perdida. Uma perda de 20% temos como aguentar, mas perdemos de 95 a 100% de nossos hóspedes”, enfatizou o presidente da ABIH/Nacional.

Foz de Igraçu é atrativo internacional, diz Linhares

Linhares defende que é hora de se buscar aquele turista que em tempos normais viajava somente para o exterior. “Nós temos um país com atrativos diversificados, cada região tem atrações de qualidade para oferecer e muitos brasileiros não conhecem nem os seus estados”, afirmou. O líder empresaria citou dados oficiais da balança comercial do turismo, destacando o desequilíbrio existente pois, nos últimos anos, turistas brasileiros deixaram entre 18 a 19 bilhões lá fora, enquanto estrangeiros gastaram apenas entre 6 a 7 bilhões no Brasil. “Esse é o momento de mostrarmos a esses brasileiros que temos produtos de qualidade. Sem descuidar dos nossos turistas tradicionais”, assegurou.

Serras catarinense e gaúcha têm atrações diversificadas

Divulgação dos atrativos

Para fazer frente a pretensão de aumentar a clientela da rede de hotéis, Linhares enfatizou que vem participando, junto com as demais entidades do setor, o chamado grupo G8, de reuniões com a Embratur e Ministério do Turismo, solicitando que sejam feitas promoções visando a divulgação dos muitos atrativos que o Brasil tem. “Afinal esse setor representa 380 mil empregos diretos e 1.100 indiretos, somos maior do que a indústria automobilística e precisamos ser atendidos”. Destacou que todas as regiões do Brasil têm atrações especiais e que cabe à Embratur e MT investirem na divulgação desses atrativos. Citou não apenas as belezas naturais, mas também eventos tradicionais dos três estados do Sul, destacando Foz do Iguaçu, Curitiba, praias e serra catarinense, além de região das Hortênsias, com Gramado e Canela e outras históricas no Rio Grande do Sul.

Manoel Linhares agradeceu ao presidente da Abrajet/Nacional, Evandro Novak, “pelo seu apoio em criar condições – como esse encontro virtual – para que possamos difundir nossas metas, nossa retomada”. Da mesma forma que enfatizou a luta da ABIH, junto ao Congresso Nacional, com o objetivo de acabar com a cobrança da taxa do Ecad sobre a ocupação dos quartos. Os hoteleiros defendem que o quarto é um ambiente privado e exclusivo do hóspede, assim considerado na lei geral do Turismo e na maioria dos países no mundo. Por isso, consideram pagar sobre as áreas comuns, como piscinas, restaurantes e áreas comuns, menos nos quartos. Além disso, as TVs abertas e por assinatura já recolhem ao Ecad.

Turistas no Mundo à Vapor, atração internacional de Canela

Aposta em rotas regionais e integradas

Para o presidente da ABIH/SC, Osmar Vailatti, é hora das entidades do setor, do Sul do País, iniciarem projetos com vistas a roteiros integrados. “Não deixar de descuidar dos roteiros internos e regionais, nem do cuidado com nossos hóspedes, porém precisamos pensar no futuro. Temos condições de unidos darmos a nossa contribuição” disse, propondo reuniões entre lideranças dos três estados, com vistas a viabilizar rotas turísticas comuns. Destacou as muitas atrações, desde o contraste de parques tipo Foz do Iguaçu e temáticos, como Beto Carreiro, e os muitos parques das Hortênsias.

Além disso, ele avaliou que a próxima temporada de praia e o reveillon2020/2021 deverão ser excelentes. “Sou um otimista e acredito na possibilidade de darmos as boas vindas ao novo ano de 2021 sem essa pandemia. Temos feito a nossa parte, aplicando protocolos de segurança à saúde. Por isso temos que esperar o melhor”, disse Vailatti. Indagado, respondeu que alguns hotéis em Santa Catarina fecharam, porém não sabe se reabrirão quando as coisas melhorarem. “Espero para logo”, apontou.

Curitiba tem atrações, além de eventos que promovem as muitas etnias

Orlando Kubo, presidente da ABIH/PR avaliou que o momento é de se apostar no turismo e rotas internas. Destacou que junto com os organismos de Turismo e Paranatur, foram aprovados roteiros que receberam apoio do Sebrae, justamente para incrementar o turismo interno. Na visão da liderança hoteleira, a chegada da vacina é que irá determinar a retomada plena do setor. Por enquanto, disse ele, estamos trabalhando para recuperar algumas perdas. Enfatizou que também no Paraná alguns hotéis fecharam mas que é cedo para afirmar que terão condições ou não de reabrir. “Poderão ser absorvidos por alguma bandeira pois estão prontos com tudo”, afirmou. Informou que cerca de 85% dos hotéis do Paraná estão abertos.

Festa das Bonecos é atração em Canela há muitos anos

Já o presidente da ABIH/RS, José Reinaldo Ritter, destacou que por enquanto tudo está muito incerto em relação a retomada do turismo e mais ainda dos negócios, já que a maioria dos hotéis da capital gaúcha depende desse tipo de negócios para sua ocupação. Disse que em algumas regiões o movimento de final de semana é maior – caso da Região das Hortênsias e mesmo de Santana do Livramento, na divisa com a cidade uruguaia de Rivera – a ocupação da hotelaria é muita baixa, mal dá para pagar custos e que apenas 50% da rede de associados está com os estabelecimentos funcionando. Destacou que cerca de 40 a 50 hotéis fecharam até agora, mas que alguns poderão retomar em setembro.

Como será o Réveilon?

Mabu Thermas Resort (divulgação)

Os próprios hóspedes estão colaborando com a sua segurança nos hotéis da Rede Mabu (o Mabu Termais em Foz do Iguaçu e Mabu Executivo, em Curitiba), do Renar (SC) e Machadinho Thermas Resort, no Rio Grande do Sul. Conforme Edson Ziolkowski, proprietário do Renar, em Fraiburgo/SC, são raros os hóspedes que chegam sem máscara, quando são informados das regras impostas pelo momento. “É surpreendente como todos aceitam e estão assimilando a necessidade de convivência com outros padrões que incluem luvas para se servir no restaurante, máscara nas dependências. Nosso check-in é feito por whatsapp sem complicações. Nos surpreende que muitos hóspedes colaboram e elogiam, por exemplo, o distanciamento que tivemos que introduzir entre as mesas no restaurante, e ainda tem feito propaganda boca a boca entre seus amigos”, destacou o empresário. Ele avalia que a partir de agora, pode-se pensar em futuro e planejar como será o réveillon em dezembro. “As pessoas estão trancadas em casa, querem aproveitar, ter momentos de lazer e já recebemos demandas. Como vamos fazer esse acolhimento? Indagou.

Entrada do Machadinho Thermas Resort (foto Maely Novak)

No Grupo Mabu todos os cuidados com os hóspedes são resultante de muitas reuniões, estudos sempre com vistas a qualidade do produto. “Nada foi feito ao acaso, teve participação de pessoal da área da saúde com nosso pessoal que atua junto aos hóspedes. O trabalho que temos feito visa atrair as pessoas para os hotéis, pois hoje a hotelaria está muito mais preparada com protocolos de higiene e saúde e não vamos voltar atrás”, afirmou Eluy. Ele destaca que apesar dos custos de preparação para ofertar mais aos hóspedes, as diárias continuam as mesmas sem aumento. “A hora é de promocionar e de absorção de custos pelo hotel. Estamos no momento de fazer a roda girar novamente”, afirmou.

Jardins do Hotel Renar

“Mesmo em momentos difíceis sempre temos recomeço positivo e precisamos estar atentos e abertos aos bons momentos e oportunidades novas”, Dessa forma o diretor-geral do Machadinho Thermas Resort SPA, Juarez Tavares, se referiu as expectativas de retomada. Afinal, ele falava também de sua vida que teve um novo recomeço, já que na tarde de 25 de agosto nasceu seu filho Valentim. Foi do hospital que Juarez respondeu as questões. “No Machadinho a palavra de ordem tem sido renovar, reinventar para renascer melhor ainda e criar novas atrações e possibilidades para atender nossos clientes. Tudo dentro de protocolos de saúde acordados com autoridades da área”. Contou que o estabelecimento atua com capacidade reduzida, cumprindo protocolos, de forma que tem tido entre 40 a 50% de ocupação nos finais de semana e cerca de 25% nos dias úteis.

Os três estabelecimentos hoteleiros contam com equipamentos para turismo de lazer e piscinas. Liberados para a utilização das piscinas, pois conforme normas sanitárias o vírus da Covid-19 não se transmite pela água, todos mantém cuidados extremos no entorno. Poucas pessoas dentro da água, para evitar aglomerações e espaços maiores para descanso após a saída. Em Machadinho, Juarez afirma que o balneário está fechado, mas que as piscinas termais, com águas jorrando a 45 graus centígrados, até favorecem ao combate de bactérias ou vírus.

A maioria dos hóspedes nos três hotéis é constituída por famílias, o que inclui muitas crianças. Os serviços de recreação optaram por fazer brincadeiras ao ar livre. “Estamos ensinando às crianças a brincar com pandorgas, de esconde-esconde e outras brincadeiras na nossa infância”, conta Eduy, da Rede Mabu. No Renar, até dicas que como usar proteção como luvas e máscaras viraram brincadeiras com recreacionistas e mesmo pais. “Creio que estamos vendo um novo momento até no relacionamento familiar. Muitos pais aproveitando para mostrar aos filhos como brincavam”, afirmou Edson.

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