Passeio a pé pelo Rio de Janeiro
Visitar o Rio de Janeiro é um espetáculo à parte, pois são muitas as atrações da Cidade Maravilhosa. Quem não lembra da emoção de ter ido ao Cristo Redentor, ter olhado a vista lá de cima ou, então, da imagem do mar avistado do alto do Pão de Açúcar? A Cidade tem muito mais. Há bastante tempo existem roteiros a pé pelo Rio de Janeiro, mas o bom mesmo é a aventura, sair por conta procurando tudo e ao mesmo tempo vivendo o clima carioca.
Sair passeando pelas praias, rodear de Ipanema, ali da Lagoa Rodrigo de Freitas até o Morro do Arpoador, Forte de Copacabana e toda a praia.
Depois vem as atrações dos bairros – Flamengo, Glória, Cadete, Lapa – até chegar ao centro histórico. Ali, além da caminhada que apresenta ao visitante a Candelária em seu esplendor, tem museus que exigem uma visita especial, um dia inteiro para cada um e, ainda, os bares e restaurantes da Rua do Ouvidor, a Lapa e o Cais restaurado, uma grande área aberta abrigando dois museus: o mais novo, Museu do Amanhã, e o antigo do Mar, ou de Arte do Rio.
Aqui o visitante precisa definir um roteiro, pois cada ponto – sem contar o Cais – é uma atração a parte e tem muito o que se ver. O que curtir e amar. Eu, por exemplo, fiquei com o Museu de Arte do Rio, ou do Mar e já na chegada me emocionei com a foto do grande Almirante Negro e com as histórias de navegação.
Não havia condições de enfrentar a imensa fila para o Museu do Amanhã eu não havia comprado ingresso antecipado, o que pode ser feito pela internet. Fizemos fotos externas, falei com pessoas que visitavam e nossa amiga Rejane Schneider, nos descreveu o Museu do Amanhã que ela amou. “uma obra que se falou muito cara, mas é grandiosa. A cultura merece. O povo merece”. Aponta esta filha de Estância Velha (RS) carioca de coração. Mas as informações não me permitiram escrever sobre o Museu do Amanhã. Afinal, já tenho motivo de sobra para voltar ao Rio de Janeiro!
Dali – da beira da Praça Mauá, tendo como vista o prédio emblemático do Museu e no outro extremo a vista da ponte Rio Niteroi – fui levada a Pedra do Sal, um bem cultural afro-brasileiro. Tombado desde 20 de novembro de 1984, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, como um monumento histórico e religioso, é ponto de samba de raiz, onde grandes nomes do mundo musical carioca, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, aprenderam ali ou deram “canja”, como Martinho da Vila e tantos outros mais jovens.
Neste local, bairro da Saúde, junto ao Cais, muitos estivadores chegaram da Bahia levando costumes de ancestrais africanos e alguns africanos chegados como escravos. Ganhavam a vila ali no cais e descarregando sal naquele ponto onde fica a pedra. Tem até uma escadaria talhada na rocha, feita pelos mesmos, para facilitar o trabalho.
O ponto, acima, seria chamado mais tarde de bairro da Saúde, cuja entrada soberana era e é a Pedra de Sal. Ali, esses homens desgarrados de sua pátria, da família e de seus costumes, se juntavam a outros marinheiros e ao final do dia faziam sua música, arranjavam namoradas novas, reviam antigas, faziam sua arruaça, brigas e até mortes aconteciam. Enfim, era a Pedra de Sal, “point” dos marinheiros. Nos dias atuais é um ponto onde tem samba todas as sextas feiras e sábados e em algumas noites da semana.
É samba puro e a arquibancada é a Pedra de Sal. A plateia se amontoa sobre a pedra, por vezes alguns até escorregam, mas tudo é alegria. As batidas (coquetéis) servidas, feitas na frente do freguês, usam frutas frescas e são de dar água na boca ao lembrar o sabor. E se você pergunta: “ Martinho da Vila vem hoje?”. O carioca mostra seu estilo na resposta: “ Não tá vendo que ele tá bem ali?
O passeio pelo centro histórico do Rio de Janeiro, pela avenida Rio Branco e ruas laterais, é de muita descoberta. Dos Arcos da Lapa, a Escadaria Selarón, a Catedral, o Convento de Santo Antônio no Largo da Carioca, a Confeitaria Colombo e a Praça XV, o Paço Imperial e o Arco do Teles.
Claro que é preciso dar uma parada para um chope no Bar Amarelinho, na Cinelândia. Com sorte, além do chope e de um tira gosto, o visitante pode acompanharm uma manifestação contra ou a favor, em frente da Assembleia Legislativa do RJ, bem ali. Esse ponto é destaque por muita história, tudo em torno da Praça Marechal Floriano. Um entorno que guarda a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes (neste pude passar quase um dia inteiro e teremos matéria sobre a magnitude). É muita atração para pouco tempo. Mas as lembranças boas ficam coladas na alma de quem faz um passeio desses. Estão impressas em minha alma!
Chegamos à Rua do Ouvidor logo cedo, num sábado. Livrarias, lojas com souvernirs, antiquários. As cadeiras e mesas eram sendo colocadas no meio do largo (muito estreito), logo a freguesia começa a chegar. Indaguei: “Posso falar com o Ouvidor?”. A resposta também foi na hora, sem frescura, à carioca: “Que pena, ele não vem aos sábados pela manhã”. Seguimos a caminhada…