Amazônia: Belém do Pará fica às margens do Rio Guamá

 

 Rio Guamá

Mercado de Ver o Peso visto do Rio Guamá

A Baía do Guajará – formada pelos rios Pará e Guamá – serve como um dos lados da moldura de Belém do Pará, a capital das mangueiras e da borracha, um ciclo que garantiu seu florescimento como cidade grande e cultural. O outro lado fica para a floresta, pois para qualquer lado que o visitante se dirija, se depara com o verde e com mangueiras carregadas de frutos, com um aroma de dar água na boca.  Pará foi magnifica na região norte, já no século XVII, período do qual ainda mantém muitos casarios, antigas propriedades que foram pontos importantes na criação de Santa Maria de Belém do Grão-Para, cidade fundada por Francisco Caldeira Castelo Branco, em 12 de janeiro de 1616, época em que foi construído, no encontro dos rios Pará e Guamá, o Forte do Presépio. Mas foi com o ciclo da borracha, que teve dois picos, tendo seu auge entre os anos de entre  1879 e 1912, portanto 30 anos, e depois um novo momento, entre 1942 a 45, ai já em função da Segunda Guerra Mundial, que a cidade passou por muitas mudanças.

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Teatro Experimental do Pará

Se o fundador mandou construir, entre outras obras, o Forte do Presépio, totalmente restaurado e um ponto de visitação necessário para quem deseja ter uma ideia da grandeza e geografia da cidade, no Ciclo da Borracha foram construídos o magnífico Theatro da Paz que se mistura com a Praça da República, essa uma mistura do verde da Amazônia com a história, tal a quantidade de obras de arte que a preenchem. No mesmo Ciclo da Borracha a Estação das Docas ganhou impulso, de forma que a cidade de Belém conta com uma área portuária extensa e muito bem distribuída. Principalmente nos dias atuais, quando essas Docas – todo o cais do porto – foram restauradas e revitalizadas, se transformando em espaços de trabalho portuário (o que significou não tirar a atividade natural); de lazer, com restaurantes, bares, salas de espetáculo; comércio, com lojas de venda do artesanato da Amazônia, se sorvetes de frutos da mata (essa loja é demais); locais para reuniões e eventos, com salas bem equipadas, e as marinas para saídas de barcos de passageiros, os moradores das muitas ilhas ou de passeios turísticos. Burocratas brasileiros falam em buscar exemplos em portos revitalizados fora do Brasil. Eu recomendo dar uma olhada em Belém do Pará.

Theatro da Paz, no centro histórico de Belém, retrata a época áurea da borracha.

Theatro da Paz, no centro histórico de Belém, retrata a época áurea da borracha.

No mesmo rumo, ainda do Ciclo, restou o legado do Parque da Residência e a Feira e Mercado do Ver-o Peso. Este último é um dos pontos mais diferenciados que conheço no Brasil. Ele ganhou vida própria e sustenta, nos dias atuais, a sua fama. Junto à área portuária, rente à Baia do Guajará, o Ver-o-Peso se expande rua afora, uma espécie de feira na qual existem áreas com pequenas lancherias e botecos com comidas regionais, a maioria dessas compradas ali mesmo, na banca ao lado, recém-chegadas de barco. Tem as tendas com vendas de tudo. Desde artesanato até remédios medicinais. Esses são vendidos em potes de barro, de madeira, de plástico, garrafas de vidro, pets e outros utensílios. Dependendo do barro e da madeira, o unguento serve para algum tipo de dor. E ninguém se assuste se encontrar testículos e vaginas de peixe boi, e de outras espécies comuns aos rios da região, porque essas iguarias depositadas em vidro com um pouco de álcool curam até doenças do sexo, em especial a falta de apetite sexual. Verdade que o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) já vem atuado, para impedir que “as partes” do peixe boi sejam usadas. Os pescadores que fornecem a mercadoria só podem retirar essas “partes” em caso de morte natural dessas espécies que estão em extinção. Outro detalhe importante do Ver-o-Peso é a certeza de que ali o visitante fica conhecendo os frutos da região. Bem cedinho, ainda na madrugada, chega o Açaí, vindo das muitas ilhas que produzem a palmeira e que comercializam ali. Na sequência chegam os ingredientes para Maniçoba: folhas de mandioca, carne de porco fresca e de gado, além de outras carnes defumadas e ervas de cheiro. Ali, as folhas da mandioca, que serão trituradas e depois cozidas para perderem o veneno, vão para a panela com os demais ingredientes. Muitos produzem ali e comercializam para restaurantes e pessoas habituadas a comer essa iguaria que é uma espécie de feijoada da culinária indígena. Durante os dias da principal Festa Religiosa de Belém e de muitas cidades vizinhas, que é o Círio de Nazaré, esse é um dos pratos servidos.

Carimbó apresentado em embarcação, durante passeio fluvial em Belém

Carimbó apresentado em embarcação, durante passeio fluvial em Belém

A cidade velha, aliada a muitas praças, falam de uma época de glórias. A arquitetura setecentista se mesclada com o barroco jesuítico do século XVII o que culmina com um patrimônio peculiar.

Rio Guamá e cidade de Belém vista ao fundo

Rio Guamá e cidade de Belém vista ao fundo

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Igreja Matriz de Belém

Mas a Belém Atual, a cidade nova, é como as demais capitais brasileiras, progressista, com áreas residenciais, condomínios e muitos arranha céus modernos. A cidade está muito bem servida de hotéis, restaurantes e serviços nas áreas de turismo, com muitas empresas especializadas. Uma visita aos muitos museus de Belém devem fazer parte de uma visita. Um desses é o Museu de Arte Sacra e o do Forte do Castelo e Complexo São José Liberto. Mas tem muito mais para se ver, como o Parque Botânico e Zoológico do Museu Paraense Emílio Goeldi.  A ida à Basílica de Nazaré é muito importante porque nessa visita se tem uma noção da dimensão da fé que movimenta milhares de pessoas na região norte do Brasil e nas Guianas, e naturalmente no Pará. A cidade de 1,5 milhões de habitantes recebe o triplo de visitantes no dia da Procissão, que ocorre em outubro. Muitas comunidades ribeirinhas começam as procissões de barco, canoas, caiaques, lanchas – isso durante o mês de setembro – de forma que no dia da grande procissão, é só pegar a suas imagens já reverenciadas nas pequenas capelas, tomar as embarcações e seguir pelas águas em busca do rumo dos demais, agora pela terra.

Da Doca saem os barcos para passeio pelos furos e igarapés do Rio Guamá, com caminhadas pela floresta, permitindo descobrir um pouco da flora e fauna da região, além de presenciar o dia-a-dia das populações ribeirinhas. Algumas empresas de turismo contam com barcos e grupos musicais. Se o turista for bom de passo, na volta já saberá dançar o Carimbó, uma das danças típicas. As atrações são muitas. Alguns passeios convidam a passar o dia numa ilha, vendo o amanhecer com a passarada dando seu show. Vale a pena visitar Belém também por sua natureza e a existência, mesmo na área urbana, de muitas espécies de aves e mamíferos da Amazônia

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Armazém do cais revitalizado

Armazém do cais revitalizado

admin

Jornalista profissional, trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e Rio Grande do Sul. Prestou assessoria às entidades ABAV, Sindetur, Sindicato de Hotéis no RS e à Confederação das Organizações de Turismo da América Latina (Cotal). Atualmente atua com assessoria de imprensa na Assembleia Legislativa.

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