Comemorando a Revolução Farroupilha

É setembro, é primavera/ é tempo das marcações, quando se marcam destinos, com o ferro dos ideais e apartam-se os imortais, para o panteão do futuro”. “São os filhos dos Centauros, que demarcaram a fronteira e à comunhão brasileira/ presentearam esse chão. Hoje, de lança na mão,/ indagam da prepotência: Se essa gloriosa querência, é uma província ou senzala/ e trazem nas dobras do pala/ enfunado de minuano/ um desafio aos tiranos que faz tremer o Brasil”. E a pampeada dos 10 anos, começa neste momento.

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Preparação dos piquetes e decoração com motivos campeiros

Os trechos escolhidos ao acaso, do poema Gesta de Um Clarim, épico rio-grandense do advogado, escritor e tradicionalista Guilherme Schultz Filho, contribuem para explicar os motivos pelos quais, em todos os setembros, o Rio Grande do Sul se torna mais gaúcho. É neste período, que começa em agosto, no Dia Nacional do Folclore, até dia 20 de setembro, que o povo comemora a Revolução Farroupilha, uma guerra de 10 anos contra o poder do Império, entre os anos de 1835 até 1945. Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) de todos os municípios, instituições públicas e privadas, preparam grandes programações culturais e oferecem aos interessados esclarecimentos sobre esse período, e preparam novas lideranças para levar adiante as tradições.

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Bandeiras emolduram os piquetes

Revolução Farroupilha: comemorada todos os anos no Rio Grande do Sul

Esta é a época certa para se conhecer mais da tradição rio-grandense. A possibilidade de vivenciar a cultura gaúcha começa na Capital, Porto Alegre, onde o Acampamento Farroupilha reúne galpões, piquetes de CTGs ou Departamentos de Tradição e Cultura de associações ou clubes, de todas as regiões. Uma verdadeira cidade rural é montada bem na área central, aberta a visitação pública, onde acontece de tudo em termos de tradições. Ali ocorrem lides campeiras, com gineteadas, torneios de laço, doma e outras demonstrações de como o gaúcho (e também a gaúcha) sabe lidar com o cavalo e o gado. Oficinas através do projeto Turismo de Galpão – sob a liderança da Secretaria Municipal de Turismo de Porto Alegre – no Acampamento ensinam de tudo.

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Acampamento contrasta com os edifícios da cidade

Entre as muitas opções oferecidas, o visitante aprende a preparar e degustar um churrasco cumprindo todo o ritual tradicional dos gaúchos,  desde a escolha das carnes no açougue; conhecer a erva-mate e como se monta um chimarrão com diferentes técnicas; ter uma aula completa de como conseguir o melhor fio para uma faca; compreender a importância do charque na história, na economia e na Revolução Farroupilha e depois conhecer a receita e o sabor de um tradicional carreteiro gaúcho; e, ainda, fazer doce de ambrosia e bolinho de chuva. Cada galpão oferece uma especialidade. Se a pessoa não quer botar a mão na massa, pode se juntar as Caminhadas Guiadas no Acampamento, com visitas aos piquetes, como são chamados os galpões. Os mais arrojados podem até aprender a encilhar e a andar a cavalo. Neste ano, com a realização da Copa do Mundo, Porto Alegre teve um Acampamento Farroupilha extra, quando centenas de visitantes estrangeiros e de outros estados puderam sentir a cultura gaúcha.

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Gaúchos vestidos à carater

Além de resistirem em galpões improvisados, todas as intempéries, pois o mês de setembro é bastante chuvoso, com dias muito frios e outros muito quentes, os representantes dos Piquetes não se entregam. São pessoas que geralmente saem em férias dos seus trabalhos e vão para a Capital mostrar seus costumes, nesse grupo se encontra desde um assalariado, profissionais liberais de áreas variadas como médicos, advogados, administradores e até religiosos.. Levam das suas regiões os apetrechos para decorar o rancho e trajando roupas típicas: mulheres com vestidos compridos ou bombachas femininas e homens com bombachas, botas e demais adereços da indumentária, como os lenços. Se o churrasco é o prato principal, nesses dias, o som da acordeona e violão dão o tom, na área musical. Em cada galpão tem um artista que arranca aplausos e, nos finais de tarde e noite adentro sempre tem dança típica com a Vanera, o Bugio, o Xote e outras danças gaúchas, essas pesquisadas pelo folclorista Paixão Cortes, criador do primeiro Centro de Tradição Gaúcha do Mundo, o CTG 35, de Porto Alegre. Nos dias atuais existem cerca de cinco mil CTGs pelo Brasil e pelo mundo afora, onde neste mês de setembro – como na capital gaúcha e em todos os municípios do Rio Grande do Sul – se comemora e se relembra a Revolução Farroupilha.

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Comida é feita em fogões à lenha

É uma época boa para visitar qualquer paragem do Rio Grande do Sul, porque ali, um CTG, as prefeituras e demais entidades, estarão comemorando com encontros, debates, seminários e, sobretudo com muita cultura. O ponto culminante desses festejos é o desfile do 20 de setembro, quando a gauchada põe seus cavalos nas ruas, num desfile cívico de grande beleza.

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Decoração com estátua de gaúcho com seu cusco

“Os fogões que acenderam pelo pampa/ no litoral, na serra, na fronteira/ ainda crepitam como a derradeira/ chama votiva de um clarão sem jaça/ quanto mais tempo sobre o tempo passa/ mais avultam dos bravos a memória/ emponchados nas páginas da história e amadrinhando (1) os rumos, dessa raça”.

  1. amadrinhar : ajudar, dar guarida, mostrar o rumo certo
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Faixas em vários idiomas ajudam os visitantes a conhecer o acampamento

 

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Cuias e chaleiras estilizadas decoram o acampamento

www.portoalegrecriativa.info

admin

Jornalista profissional, trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e Rio Grande do Sul. Prestou assessoria às entidades ABAV, Sindetur, Sindicato de Hotéis no RS e à Confederação das Organizações de Turismo da América Latina (Cotal). Atualmente atua com assessoria de imprensa na Assembleia Legislativa.

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