Aldeia Pataxó da Jaqueira é visita gratificante em Porto Seguro

A Aldeia Reserva Pataxó da Jaqueira, em Porto Seguro, é uma área de 827 hectares de Mata Atlântica preservada, onde vivem 34 famílias. A entrada na Reserva, ao lado de um pequeno riacho de águas claras onde geralmente crianças indígenas estão brincando, aproveitando a folga das aulas, já que a escola nos idiomas Português e Patxohã  (língua oficial dos Pataxós) funciona no alto, dentro da mata e próximo as casas. A partir do pórtico, o visitante se identifica, paga o ingresso ou apresenta o mesmo, caso esteja com agência de turismo ou grupo, e dali segue guiado até dentro da mata, onde estão as moradias, escola, casas de reuniões, rezas, curas e entretenimentos.

As famílias que ali vivem mantem, ainda, alguns costumes milenares, em especial em relação às plantas e suas qualidades medicinais. Tanto que aquelas para dores, picadas de insetos e problemas mais comuns já fazem parte dos pequenos quintais onde mudas ou sementes são plantadas, junto às casas. A parteira da aldeia e usuária frequente dos canteiros, incentivada pelo pajé.

A parteira apresenta os muitos chás, os quais sorvemos em nossa agradável visita

 Quando recebem visitantes, de segunda a sábado, para desfrutarem momentos de convívio com o ¨homem urbano ou branco¨, são oferecidos chás feitos em cima de um fogão a lenha, embaixo de uma choça. Além do chá, a visita de três horas garante a degustação da culinária local, no nosso caso “peixe assado na palha de patioba”.  A pesca é liberada de acordo com o período da Piracema, a exemplo dos demais pescadores. A Caça é totalmente proibida, de forma que podem ser encontrados tatus, onças e veados mateiro e catingueiro, macacos, micos, bugios, entre muitos outros animais como cobras, por exemplo. “Nós guardamos toda a natureza, árvores e animais, não só para nós, mas também para o homem urbano”, destacam.

Os indígenas recebem os visitantes vestidos e pintados a caráter, com seus trajes que incluem tangas e cocares. Nessas oportunidades promovem, inclusive, a apresentação com as suas danças e rituais típicos. Durante a visita, também, os visitantes são treinados, se assim desejarem, a utilizar o arco e a flecha. E todos os que desejarem podem se deixar pintar seus rostos. Descobri que a moça solteira ou uma menina, tem pintura diferente da mulher comprometida. São os traços (riscos) a mais ou menos de tinta no rosto que definem as diferenças entre casadas e solteiras.

A arte de transformar cipós e cascas em arte

Além disso, é possível adquirir peças do belíssimo artesanato, confeccionado na própria tribo pelos seus integrantes, pois existem espaços em que são disponibilizadas – de forma muito racional – centenas de peças da produção local. Na nossa ida na Aldeia, mãe e filho de seis anos trabalhavam peças em cipós e outros materiais. Uma amiga – Carla – do nosso grupo da Confraria de Jornalistas de Turismo, liderado pelo jornalista Carlos Casaes, de Salvador (BA) adquiriu uma bolsa linda. O indiozinho que trabalhava sentado no chão, ao lado da mãe, exclamou : “Minha primeira peça foi vendida”! Alegria total do nosso grupo e da mãe que incentivou o pequeno a prosseguir seu artesanato! Na aldeia é assim que se aprende e se leva adiante a tradição: acompanhando o trabalho do pai ou da mãe ou dos mais velhos e fazendo parte do todo, acumulando a cultura!

A Aldeia e Seus Habitantes

Nitynawã nos fala do seu povo, do fogo e massacre de 1951

         A Reserva Pataxó da Jaqueira é fruto da decisão de três irmãs cujos antepassados foram expulsos ou mortos no que na linguagem oral os indígenas do local chamam de “fogo e massacre de 51”. Esse fato histórico aconteceu no Extremo Sul da Bahia, quando da criação do Parque Nacional do Monte Pascoal, em 1943. Inconformados, em 1951 fazendeiros invadiram a área, criaram o conflito e a polícia foi ao local. Moradias foram queimadas, famílias inteiras assassinadas, mulheres estupradas, uma carnificina.

         Cansadas da via nômade, as irmãs Nitynawã, Jandaya e Nayara, decidiram fixar moradia na Jaqueira, no começo dos anos 90. E já que precisavam de recursos para o sustento da tribo e preservação do lugar, as três optaram por abrir a aldeia para o Turismo. Os visitantes que desejarem ir ao local através de agência de viagem podem procurar a Pataxó Turismo, que inclusive faz parte ou participa da Campanha Turista Cidadão.

Escola bilinngue no centro da aldeia

Uma das líderes da aldeia, Nitynawã foi quem contou sobre a história de como surgiu a Reserva da Jaqueira. Ela ensinou que bom dia é Hayôkuã e a resposta correta ao bom dia é Hayôxó. Na apresentação dessa liderança, tivemos uma verdadeira aula sobre a realidade de nossos povos indígenas. Também as informações sobre os jovens adultos indígenas que frequentam cursos em faculdades foi tema da fala de Nitynawã. Segundo ela, os estudantes frequentam as aulas e retornam à aldeia, onde ajudam em todas as frentes de trabalho. Alguns poucos têm trabalho fora da aldeia, mas ainda assim são ações envolvidas com a Reserva. Uma das preocupações desse núcleo é recuperar o máximo de conhecimentos sobre o Idioma Patxohã.

Para chegar na Reserva, o acesso de dá pela BR-367 (Estrada Porto Seguro – Santa Cruz Cabrália). Fica a exatamente 12 quilômetros do centro de Porto Seguro. A reserva encontra-se a 2 quilômetros da costa marítma.

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