Igrejas compõe a história de Olinda Pernambuco
Falar das igrejas de Olinda, em Pernambuco, é até complicado. São tantas e dedicadas a tantos santos, que só percorrendo suas vielas para crer. Em uma área de pouco mais de um quilometro o visitante se depara com cerca de 12 ou 15 igrejas. Sem contar os chamados “Passos”, que seriam os “Capitéis”, na zona italiana do Rio Grande do Sul.
Algumas igrejas são verdadeiras obras de arte, quase museus. Mas quando o turista pensa que ali só existem figuras estáticas, eis que um grupo de freiras, ao meio dia em ponto, abre as portas da igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, ali na Praça da Sé, e ora por tantos quantos perderam a fé, a alma, as esperanças, a saúde. Cada trecho é dedicado a um “perdido”. A solenidade, só delas, que deixam a última fileira de bancos para algum fiel desgarrado, é toda dedicada ao próximo. A responsável pela condução das preces elege o escolhido “Pelos que sofrem doenças e querem a cura”, deixando às demais a resposta “Por nossa Senhora da Misericórdia”. “Pelos sem fé em si e no próximo e em Deus”, tendo a mesma resposta em coro “Por Nossa Senhora da Misericórdia”. É muita emoção, ver aquelas religiosas em trajes simples, ainda o hábito tradicional, sem pernas de fora, com braços e cabeças cobertas. Todas usando óculos, certamente pelas muitas horas de leitora de orações ao próximo.
O que falar do Convento de São Francisco, construído no final do século XVI, em 1577, que é o convento franciscano mais antigo do Brasil, no qual se destacam os azulejos portugueses e pinturas do século XVIII. Essa obra que corre o risco de se perder, conforme relatórios de entidades conservacionistas. Suas Naves Central e Lateral, ao lado dos diversos adornos e afrescos nas abóbadas, são arte e história pura. Do pátio exterior (não do Claustro) a vista de Olinda e de Recife, é magnífica. Mas é da Praça da Sé, onde fica a Igreja de São Salvador do Mundo, que já foi uma pequena capela mandada construir em 1548 e com uma primeira reforma em 1584, que se vê a beleza do entorno. Teria sido ali que o colonizador, o dono da Capitania, o donatário de Pernambuco, Duarte Coelho teria dito “Ó Linda”, ao terminar a exaustiva subida e olhar para o além, para baixo e lados. Ainda hoje, com muitos prédios no entorno, a ideia ainda é a mesma. Linda, linda demais a Olinda. Mais alta que a Sé, somente a Igreja de Nossa Senhora da Graça, ali na Praça da Sé, Mas na época nem dava pra chegar nessa altura, era um morro íngreme.
A Sé, ou a Catedral de Olinda é visita obrigatória, natural. Ali estão sepultados os muitos bispos de Pernambuco e Olinda, entre esses Dom Helder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife. Um bispo reformador, voltado aos direitos humanos, que enfrentou a ditadura militar, pondo-se ao lado dos perseguidos e sempre em defesa e em dos mais pobres. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Na ala direita quem entra no templo, o visitante vê uma imagem do Cristo Redentor e ao lado está a urna que recebeu os restos mortais de Dom Helder. No complexo da Sé, atualmente tem um observatório, um reservatório de água vertical, com elevador, onde o turista pode do alto ver toda a região.
Uma visita a cada uma das igrejas é rever ou revisitar a história, a forma que viviam, estudavam e projetavam o futuro naquela região. Conventos, seminários, escolas todos com suas igrejas marcando a importância da religiosidade, deixaram marcas na história. O que dizer da mais antiga Faculdade de Direito do Brasil, localizada ali no chamado Varadouro, exatamente no Mosteiro de São Bento, que por 24 anos abrigou a Faculdade? É muita igreja e muita história pra se ver.
IGREJAS DE OLINDA:
Igreja de Nossa Senhora do Amparo – Situada no Largo do Amparo, foi construída em 1613 pela Irmandade de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos;
Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe – É a primeira igreja do Brasil sob invocação da padroeira do México e da América do Sul. Foi construída pela devoção dos homens pardos libertos ou escravos da Vila de Olinda entre os anos de 1626 e 1629;
Igreja da Misericórdia – A Igreja de Nossa Senhora da Luz, do antigo Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, foi construída em 1540, por ordem da Coroa Portuguesa;
Convento de São Francisco / Igreja de Nossa Senhora das Neves – O Convento primitivo foi construído em 1585, com projeto do frei Francisco dos Santos, sendo o primeiro estabelecimento franciscano do Brasil. É formado por um conjunto que inclui a Igreja de Nossa Senhora das Neves, a Capela de São Roque (a mais antiga Capela da Ordem Terceira Secular existente no país), a Capela de Santana, revestida com painéis de azulejos e o claustro (com 16 painéis de azulejos portugueses que retratam a vida e a morte de Francisco de Assis) e a sacristia.
Igreja de Nossa Senhora da Boa Hora – Edificada por Bernardo Ferreira Viegas e sua mulher, D. Elena Maria da Conceição, foi construída em 1807;
Igreja de Nossa Senhora do Desterro e Convento de Santa Tereza – Construída no século XVII, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro é votiva, erguida depois da vitória alcançada contra os holandeses na Batalha dos Montes das Tabocas, em 1645, pelo mestre-de-campo, general João Fernandes Vieira. Com a chegada das Carmelitas Descalças a Pernambuco, foi iniciada a construção do Convento de Santa Tereza.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos – Fundada na segunda metade do século XVII, através da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda, por pertencer aos negros escravos, a igreja é a primeira em Pernambuco com irmandade a congregá-los.
Igreja de Santa Cruz dos Milagres – Construída em 1862, a Igreja de Santa Cruz dos Milagres é uma das mais simples de Olinda. Conta-se que houve uma grande seca na região e um boi pastando nas proximidades, onde antes era uma espécie de mangue, encontrou água para saciar sua sede, o que foi visto como milagre;
Igreja de São João Batista dos Militares – A Igreja de São João Batista dos Militares foi construída na segunda metade do século XVI. Segundo registros, o prédio abrigou, em 1592, os beneditinos quando chegaram a Pernambuco.
Igreja de São José dos Pescadores ou Ribamar – Construída por pescadores da localidade no inicio do século XX, a Igreja de São José dos Pescadores, primitivamente, se constituía numa ermida, passando à Capela em 1901;
Igreja de São Pedro Apóstolo – A construção da Igreja de São Pedro Apóstolo foi posterior à Restauração Pernambucana, na segunda metade do século XVIII;
Igreja de São Sebastião – A Igreja de São Sebastião foi construída no ano de 1686 em louvor a São Sebastião, pelas graças alcançadas durante a epidemia de cólera que atingiu várias cidades brasileiras, entre elas, Olinda;
Igreja do Bom Jesus do Bonfim – Construído no século XVIII, no ano de 1758, o templo foi levantado por um morador no local onde, anteriormente, havia um nicho dedicado ao Senhor Bom Jesus do Bonfim;
Igreja do Carmo – Foi construída em 1580 como Capela de Santo Antônio e São Gonçalo. Com a chegada do carmelitas em 1581, iniciou-se a construção das novas instalações, as mais antigas da Ordem dos Carmelita das Américas. Possuía o maior sino da cidade, que em 1630 foi retirado e transformado em armamento pelas tropas holandesas;
Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição – Construído no século XVI, o prédio é um dos recolhimentos de freiras mais antigos do Brasil, e o primeiro sob devoção de Nossa Senhora da Conceição. Em 1631, foi saqueado e incendiado pelos holandeses;
Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte – Construída originalmente por ordem de Duarte Coelho, em 1535, a Igreja de Nossa Senhora do Monte é a mais antiga edificação religiosa de Olinda;
Mosteiro de São Bento – Construído a partir de 1586, o Mosteiro de São Bento de Olinda é a segunda instalação beneditina em terras brasileiras. Foi destruído pelos holandeses, reconstruído a partir de 1654 e concluído em 1759, recebendo o estilo Barroco. Abrigou durante 24 anos, a primeira Escola de Direito do Brasil, fundada em 1811.
Seminário de Olinda – Igreja de Nossa Senhora da Graça – Localizado no ponto mais alto de Olinda, o conjunto arquitetônico é formado pela Igreja de Nossa Senhora da Graça e pelo Seminário Diocesano, instalado onde funcionou o Real Colégio Jesuíta. Foi preservada, até hoje, a modulação clássica do prédio, sendo o maior e melhor testemunho da arquitetura jesuítica do século XVI, no Brasil.