Paraty é história e cultura entre o mar e a mata

Casario antigo no centro de Paraty
A cidade ou Centro Histórico de Paraty, no litoral da Costa Verde, no Rio de Janeiro, atua sobre o visitante como uma aula de história ao vivo. Casarões, pequenos casebres, ruelas com pedras irregulares, capelas e igrejas se misturam, cada uma versando sobre algum momento deste local que uma vez foi tão somente um mar pontilhado por muitas ilhas e ladeado pela mata atlântica, em subidas abruptas, com padras e montanhas orgulhosas. Há divergência sobre a data da fundação – entre 1540 a 1560. Mas é certo que em 1660, aquele povoado decide ter mais autonomia, se rebelando e exigindo a separação de Angra dos Reis, ali ao lado e com igual geografia. Passou a ser uma vila, tendo como padroeira Nossa Senhora dos Remédios de Paraty. Distante 282 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, pela BR-101, Paraty é famosa por muitos festejos na área cultural, religiosa e histórica.

Procissão do Divino Espírito Santo
Em maio, Paraty comemora o Divino.
No mês de maio, a igreja matriz é centro das comemorações do Divino Espírito Santo. As bandeiras coloridas saem todos os anos, agregando fiéis locais, visitantes das redondezas e turistas de todas as partes do mundo. Quando o cortejo passa, fica difícil decidir entre o olhar para mais um casarão, ou acompanhar a corte que leva as bandeiras e, entre essas, a do Divino. Padroeiros, os responsáveis pelas festividades, seguem de igreja em igreja, entoando os hinos religiosos pelas ruelas.

Museu do SESC em Paraty
Nos festejos deste ano – o que já é tradicional – a Festa do Divino teve, entre as atrações, uma Congada de Cunha, uma cidade paulista que fica em cima da serra, subindo pelo Parque Nacional da Bocaina. A maioria dos integrantes já com bastante idade, muita prática nas cantorias do Divino e manuseio dos instrumentos, servia como modelo para cerca de oito pares de jovens: todo o grupo descendente de negros, aprendendo a lição dos antepassados e levando muita emoção para a plateia. Na qual, me incluí.

Congada de Cunha, São Paulo na Praça de Paraty
Qual seria o mais lindo prédio da histórica Paraty? Não tem resposta, pois a cada quarteirão as casas – atualmente transformadas em de comércio, restaurantes, pousadas, museus, galerias de arte, pensões e alguma moradia – surpreendem pela preservação de uma época de opulência e, sobretudo, pelos detalhes das construções. E, ainda pelo colorido de muitas flores.

Junto ao Rio que percorre acidade até o mar, muitos jardins em pousadas
Por menos rico que fosse o dono, a arquitetura exigia algum requinte. Não foi por acaso que todo esse conjunto, incluindo o Cais, de onde saem embarcações para passeios em meio às dezenas de ilhas ou ao mar, foi considerado pela UNESCO como “o conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso”. Também foi tombada pelo IPHAN como Patrimônio Nacional.

Viela antiga em Paraty
Muitas atelieres de arte atuam como mais um atrativo turístico em Paraty.

Lojas de artesanato em Paraty
Na igreja de Santa Rita de Cássia, junto ao cais, de onde saem centenas – senão milhares – de embarcações para muitos passeios – está o Museu de Arte Sacra da cidade, criado em 1978. O acervo é composto por utensílios e pelas em prata (numa sala chaveada, tal a riqueza interior), por imagens de diversos santos. Na sala de Prata, figuram, entre cálices, zimbórios, patenas e tantas outras peças tradicionais dos ritos católicos, uma Coroa, o Cetro e a Salva do Imperador do Divino Espírito Santo. Entre outros destaques, figura uma imagem do Corpo de Cristo magnífica, além da imagem da santa padroeira de Paraty, a Nossa Senhora dos Milagres. Peças importantes, recolhidas em igrejas da região, reportam ao período barroco, em terracota e outras peças de rituais, feitas por artistas diversos dos séculos XVII até início do século XX.

Nesta igreja fica o Museu de Arte Sacra. Fotos proibidas, só com autorização do diretor
Na mesma rua (junto ao cais) onde está a igreja de Santa Rita e o Museu de Arte Sacra, fica o prédio do Quartel do Forte da Patitiba e , ainda, uma unidade do Sesc, onde são promovidas exposições de obras variadas.

A maré alta invade as ruelas entre os casarios
Quem chega a Paraty, mais conhecida mundialmente pela foto da Igreja de Santa Rita de Cássia, vista do mar, não acredita que aquela cidade teve um período de ostracismo. Graças a esse período, dizem historiadores, o Centro Histórico se manteve, devido ao desinteresse pelo local. Com o fim do ciclo do ouro, as atividades portuárias decaíram, ganhando algum impulso novamente com o Ciclo do Café. A produção de cachaça (lá chamada quase que exclusivamente de pinga), ajudou a economia local e até os dias de hoje se mantém firme. Tanto que Paraty sedia um festival de Pinga, todos os anos, quando a disputa é grande por uma vaga numa pousada. Todos aos meses de julho a cidade promove a Feira Literária de Paraty (Flip), outra época em que é preciso disputar espaço. Em maio teve o Bourbon Festival Paraty, já na 8ª edição, reunindo em vários espaços públicos artistas de renome nacionais e internacionais, O jazz, o blue e soul deram o tom. Mais de 30 mil visitantes lotaram a cidade entre dias 20,21 e 22 de maio.

Praia de Jabaquara com montanha ao fundo
Existem muitos pontos que exigem visitação em Paraty, além da Centro Histórico. As praias, claro, ganham destaque especial, assim como os passeios de escuna, barcos, chalanas, velas e caiaques. Vale a pena negociar os valores dos passeios pelo mar, em especial de sua viagem for fora do “quente” da temporada: meses de verão, julho e em feriadões e durante os muitos festivais. Passeios de jipes e de land rovers também são comuns, para aqueles que amam e querem conhecer a natureza. Afinal, no lado da montanha, fica a Reserva do Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB), um magnifico pedaço da Mata Atlântica tombada para fins de preservação (essa é outra história vamos abordar).

Canhão do Forte com selo real
O Forte do Defensor Perpétuo, construído no morro da Vila Velha, em 1703, também tem seu Museu e no qual se pode ficar sabendo mais sobre os índios que habitavam a região, o tratamento dado aos escravos (tronco) e seus costumes, como os tambores de jongo utilizados no período colonial. Canhões de 12 tiros e a casa da Pólvora são algumas das atrações. Dom Pedro I é o Defensor Perpétuo.
Site de Paraty: http://www.paratyonline.com/jornal/